segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Uma noite turbulenta

Era tarde da noite, alias já era de madrugada, como de costume estava com insônia. Des de que parei de fumar, insônia era algo constante. Sentei na cama, fiquei alguns minutos olhando para o nada, levantei, fui ao banheiro, tomei um pouco de água e decidir ir tomar um ar na varanda. Morava em um prédio de 8 andares, meu apartamento ficava no 6º e eu tinha uma ótima visão da rua. Fiquei parado, com o corpo apoiado no parapeito da varanda, às vezes eu tinha vontade de me jogar de lá de cima, mas era muito covarde para isso. Fiquei lembrando que de uns tempos para cá, tudo estava dando errado. Minha mulher tinha pedido o divorcio e saiu de casa, meus “amigos” se afastaram quando decidir parar de beber e ainda para completar havia sido afastado da corporação, pois eu atirei e matei alguém. Sou um bom policial, e ele era um estuprador, ele puxou a arma para mim e não hesitei em colocar duas balas no peito dele. E eu sou o errado? Eles queriam que eu esperasse ele atirar, ter a sorte dele errar o tiro e ainda assim tentar desarma-lo antes da atirar contra? Esse sistema é uma palhaçada mesmo.  Ia virando para entrar, quando ouvi um rosnado de um gato, isso sempre me arrepiou, tentei ver se localizava de onde veio o barulho, mas não vi nada. Ia virando novamente quando o alarme de um carro na rua disparou. Olhei novamente, dessa vez sabia de onde o barulho vinha, era da rua ao lado, algum bêbado deve ter esbarrado e o alarme tocou. Ia entrando até que pela 3ª vez algo chamou minha atenção de novo, mas dessa vez foi um grito de mulher. O que diabos estava acontecendo aqui? Fiquei olhando para tentar ver alguma coisa, mas somente ouvia-se o alarme do carro e mais nada. Alguns segundos depois  aparece uma mulher correndo e gritando, ela quebra o salto de sua sandália e cai no chão. Momentos depois outra mulher, com as roupas meio rasgadas e parecia que havia sangue também, se aproximou e jogou seu corpo em cima da que estava no chão. A que estava no chão foi mordida várias vezes e em  varias regiões. Foi isso que eu vi mesmo? Uma mulher atacando a outra com mordidas? Que tipo de briga foi essa? Pena meu celular não ter câmera pra eu ter filmado e postado na internet. Mas olhando bem, parece que foi sério, pois ela até agora não se levantou do chão e a que a atacou está parada, como se estivesse farejando algo.

Seu André, porteiro do prédio, um homem bom e honesto, vendo esta confusão, decide ir lá fora ajudar a moça. Ele dizia palavras para tentar acalmar a agressora, mas  parece não funcionar,  ela pula em cima dele e como ele era um homem forte, ele a joga no chão. Ela vem a seu encontro mais uma vez e o bom homem consegue segura-la, mas ela parece ser bastante forte, apesar de seu tipo físico. Ela gritava como um animal enfurecido, devia estar drogada, ou então naqueles dias. Pensei em ligar para a policia, se eu me identificasse, eles viriam rápidos, mas a que estava no chão começa a se levantar com dificuldades. Pronto, ela vai aproveitar que a sua agressora está imobilizada e vai se vingar das mordidas. Ela se aproxima dos dois e... Espera...  Como assim?  Ela esta atacando André, que não consegue segurar as duas e acaba soltando a primeira agressora e agora as duas começam a agredi-lo com mordidas. Em poucos minutos André está caído no chão, com certeza morto, tem muito sangue espalhado, ninguém sobreviveria a isso. As duas correram juntas e eu entrei, assustado e tremendo um pouco, peguei o telefone e me identifiquei:

- Central, aqui é o detetive Níkolas Ferreira, preciso que mande uma unidade aqui para a minha rua, duas mulheres agrediram o porteiro, e ele deve estar morto. As duas estão com as roupas rasgadas e o mais estranho é que uma delas foi atacada antes também.

- Detetive, uma unidade está a caminho, mas o que está acontecendo com essa cidade? Estamos recebendo chamada a noite toda de pessoas sendo agredidas.  Isso está um inferno!

Pessoas pela  cidade agredindo umas as outras? Será que isso é por causa do meu afastamento? Brinquei e cai na risada. Mas era séria a situação, vou ver se tem algo falando sobre isso na internet. Que estranho,  está sem sinal e nem está chovendo.  Será que tem algo na televisão? Pela hora, acho difícil, já passam das 4. Estava certo, só passava filmes e programas religiosos. Ouvi um barulho vindo lá de fora e corri para ver o que era. Na certa mais alguém viu o ocorrido e deve ter ido socorrer André. Espera, onde ele está? Eu só vejo a poça de sangue, mas não o vejo. E não vejo nem sequer sinais que alguém o arrastou. Como se ele tivesse levantado e saído  andando. Mas mesmo se ele estivesse vivo, ele teria que ter se arrastado no mínimo . O que estava acontecendo nessa cidade? Fiquei sentado no sofá, pensando em milhões de teorias absurdas sobre o motivo disso, teorias que quando era jovem, gostava de discutir com meus amigos. Na certa isso é o cansaço falando, deve ter uma explicação racional para isso. Não sou mais criança para acreditar nesse tipo de bobagem. Ai ai.

Dei um pulo do sofá com o susto, meu telefone estava tocando. Acho que acabei cochilando aqui. Antes de atender identifiquei o numero, era meu parceiro Diego, vi as horas também, eram 7 horas e 38 minutos.

-Fala Diego, bom dia cara!

- Ník? Você está bem? Está em casa?

- O que foi cara? Por que está bufando assim? E sim, estou bem e estou em casa. 


- Cara, liga no jornal e vê o que está acontecendo. Está uma loucura nessa cidade, pessoas estão se matando e voltando, e matando,  e isso está virando um circulo. Recebemos ordens de atirar em qualquer pessoa com algum ferimento, mas parece não surtir efeito, eles continuam vindo em nossa direção. Não saia de casa, tranque a porta e também...

E então a ligação caiu. Será que era um trote? Se for, ele pode ir para a televisão, pois eu fiquei aflito com a aflição dele. Se isso for verdade, pessoas morrendo e ganhando vida, então eu desacredito em tudo que for racional nesse mundo. Quer saber? Vou ligar a Tv e ver se acho algo.  No jornal da manhã de uma afiliada local, mostrava a cidade. De acordo com a repórter que estava dentro de uma van em quanto o câmera filmava pela janela, isso começou por volta da meia noite, pessoas ficaram agressivas após ter contato direto através de ferimentos como mordidas. Ela recomendava que ninguém saísse de casa, pois isso estava se espalhando rápido demais  e ninguém sabia uma forma de matar novamente os mortos.  Ela parecia dizer mais alguma coisa, porém a luz acabou e a televisão desligou. Não acredito nisso, estava em choque, não conseguia nem me mover.

Ouvi um barulho muito grande vindo do apartamento do vizinho, logo em seguida um grito, um palavrão e um tiro. Pensei em ir pegar minha arma e ir ajudar, mas não conseguia nem me mover do sofá. Tudo ficou em silencio depois de outro tiro. Bateram na porta. 




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